sexta-feira, 27 de março de 2015

Cooperadores de Deus (Texto de autoria do pr. Felipe Fulanetto)



Uma tendência que observamos nos relatórios e giros missionários é a ênfase aos pontos negativos de determina área ou país que o missionário está atuando. Não raras vezes, vemos nas igrejas, redes sociais e blogs, fotos de crianças negras passando fome, casebres lotados de gente, pessoas doentes, cidades destruídas, calamidades naturais, etc. É como se a miséria validasse o trabalho missionário, nos transmitindo uma visão pessimista do mundo, e os missionários têm a solução para todos os problemas. Porém, algo está errado nessa tendência!
Eu gosto de ter uma visão positiva – a do copo meio cheio e não vazio – buscando sempre animar, e não colocando culpa e medo. O meu positivismo (não teológico!), não tem a ver com acreditar que o homem é bom em si mesmo (somos todos pecadores), mas, sim, no Deus imutável e poderoso. Quando prego sobre missões, não enfatizo a pobreza na África, tampouco o terrorismo do Islã, muito menos o narcotráfico latino-americano ou ainda a vida primitiva dos índios Papua. Então qual deveria ser a nossa ênfase? Que mensagem deve ser transmitida?
Eu corro junto com Patrick Johnstone, um missiólogo e pesquisador britânico, ao dizer que Deus esta fazendo a sua obra no mundo e Ele nos convida a participar dela. Há muito que regozijar-se. Tantos avivamentos e milagres de Deus ocorrendo nesse exato momento! Por que não falarmos dos mais de 15 mil missionários sul-coreanos no mundo? Por que não anunciarmos o avivamento chinês com crescimento acima de 7.400% (de 1 milhão para 75 milhões) evangélicos em apenas 50 anos? Porque não afirmamos que os maiores plantadores de igrejas na Europa são nigerianos? Ou ainda a perseverança e crescimento dos cristãos iranianos (em 1979 havia aproximadamente 500 cristãos, já em 2008 foi registrado mais de 1 milhão de servos de Cristo)?
Parece-me que a estratégia para levantar novos missionários é baseada na culpa – “estão morrendo sem Jesus porque você não prega” – ou no medo – “se você não pregar, Deus vai te cobrar essas vidas”. Algumas vozes podem me contrapor, dizendo: “mas se nós enfatizarmos somente as coisas boas, as pessoas não vão querer ser missionárias, porque pensarão que Deus não precisa delas”. Exatamente! Deus não precisa de nós e nunca precisará. Nós é que necessitamos dele. Se realmente acreditamos na “Missio Dei” e que Deus é o dono da História e da Igreja, devemos confiar que, ao enfatizar a obra que é dele, e não a nossa, o Senhor irá tocar nos corações que estão desejosos a participar da obra que Deus já esta fazendo nas nações, e não aqueles que querem ser o protagonista da missão.
Por isso, fiquei muito feliz ao ver no ano passado no 7° CBM (Congresso Brasileiro de Missões) o lançamento do DVD “Envolva-se”, coordenado pela missionária Mila, com apoio da AMTB e Martureo. Nesse material desenvolvido pela “Create International” (Austrália) fica clara a obra que Deus está fazendo em todas as etnias. É esta visão positiva que estamos precisando no Brasil. Olhar para as nações com uma visão de amor e de cooperadores, e não de pena e solucionadores dos problemas. Os europeus e americanos não são maiores que os latinos, e nós não somos melhores que os africanos. Somos um corpo, e cada um tem sua parte e contribuição dentro dele. Paulo já dizia isso:
 “… de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho. Pois nós somos cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus”. (1 Coríntios 3.7-9).


• Autor do texto: Felipe Fulanetto, de Campinas (SP) - mestrando em Missiologia no CEM e especializando em Etnomusicologia pela “Summer Institute Linguistic” (SIL). Foi missionário no Peru e Paraguai e hoje é pastor pela Igreja do Nazareno, coordenador de pesquisas missionárias institucional da AMTB, pertence à equipe do projeto Vocacionados (vocacionados.org.br) e da organização do Congresso VOCARE.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Jesus coloca condições para segui-lo?



"Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me;" - Mt. 16:24

Quando meditamos na Palavra de Deus, onde há a colocação de negar-se a si mesmo, é impossível não pensar nos nossos desejos e saber que deveremos (por amor ao Mestre) abdicá-los. Mas o que seria realmente negar-se a si mesmo? O que isso quer dizer? Então existe uma condição para seguir a Jesus? 
A má compreensão da Bíblia nos conduz a viver o evangelho de forma errada e as vezes abominável aos olhos de Deus. Podemos ver isso perfeitamente nas pessoas que carregam a Bíblia, creem em Deus, mas se prostram perante imagens esculpidas, pessoas ou bens. Negar-se a si mesmo tem a ver com nossos pecados, com nossos conceitos e filosofias, tem a ver com nossos desejos, tem a ver com meu EGO. Eu preciso sair do trono, do comando, da direção e deixar Jesus ser o dono da minha vida. Jesus nos deu exemplo disso quando estava no Getsêmani, orando, e dizendo: "Pai se for possível, passa de mim esse cálice, mas seja feita a tua vontade e não a minha". É como se falássemos em determinadas circunstâncias: "Senhor ... eu não gostaria de passar por esse momento, mas a Tua vontade é mais importante do que a minha, porque o Senhor sabe o que é melhor para mim".
Tomar cada dia a cruz. Nossa cruz não é de madeira ou de ferro. Nossa cruz são os problemas decorrentes do "segui-Lo". Uma vez tomada a cruz não podemos desistir. Jesus disse: “Aquele que lança mão do arado e olha para traz não é apto para o reino de Deus”. Quando decidimos seguir a Jesus precisamos ter disposição para enfrentar o que der e vier. Rejeição da família, desprezo dos pais, zombaria dos colegas, perseguição dos religiosos, das tentações, da vaidade, etc.
É preciso estar ciente dos conflitos internos, com nossos próprios interesses. Quando a decisão é de seguir a Jesus, começa uma guerra, um conflito dentro de nós, é o que Paulo chama de luta da carne contra o espírito. Em outras palavras, começa um conflito entre os meus interesses e os interesses do Reino; entre o que eu penso e o que a Bíblia diz; entre a minha vontade e a vontade de Deus. Há situações em que o cristão faz algo, se satisfaz naquilo, mas Jesus mostra e ensina que é pecado. Portanto, tomar a cruz é ter disposição para obedecer a Jesus. “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens”.
De um modo geral o ponto de encontro entre a nossa vontade e a vontade de Deus vem, quase sempre, nas grandes crises de nossas vidas. Mas também quando nos achamos inclinados a desobedecer a Deus e temos coragem de optar pela obediência a Jesus. Essa luta diária é nossa cruz. “Aquele que quer me seguir tome cada dia a sua cruz e venha. Ou, aquele que não tomar a sua cruz não pode ser meu discípulo”. Quando uma pessoa se desprende dos desejos próprios para servir e agradar ao seu Senhor e Salvador, ele se nega a si mesmo, toma a sua cruz e segue a Jesus. "E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências" - Gl. 5:24
Há uma ilustração bem interessante ... fala sobre o exemplo do soldado crente. "Certo soldado que se convertera, todas as noites ajoelhava-se para orar antes de deitar-se para dormir. Certo dia estava ele orando, quando seu comandante o observava e jogou em seu rosto seus coturnos sujos. O soldado crente continuou orando, imperturbavelmente. No dia seguinte, ao levantar-se, aquele soldado limpou as botinas de seu comandante e as entregou, vencendo assim o mal com o bem; E assim foram algumas noites. O oficial diante de tão belo testemunho, desejou conhecer esse Jesus no qual o soldado sempre falara em suas conversas, orações e atitudes. E, assim, converteu-se a Cristo."
Seguir a Cristo é amá-lo e desejar agradar o Seu Coração; reconhecer a Sua Majestade e Sua Soberania. Permitir que realmente o Seu Reino venha - Lc 11:2. Seguir a Cristo é uma caminhada contínua de aprendizado ... é ser discípulo.




sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Falando de igreja ... Há contradição?

Quando é mencionado o nome igreja, muitos pensamentos ocorrem nas mentes das pessoas. Ouve-se de tudo um pouco ... Como pode a igreja sendo uma instituição divina, ser alvo de tantas contradições? Como pode a igreja pregar a paz em Jesus Cristo e dentro das suas fileiras as pessoas estão muitas vezes se digladiando? Como pode a igreja pregar uma ética cristã baseada no Reino de Deus e dentro dela as pessoas estão fazendo as mais incríveis idiotices?
É necessário muita calma!! Nesse blog é refletido sobre a Igreja do Senhor ... sobre o ide ... sobre o ser humano nesse ide ... sobre a missão de Deus. Mas não tem como tampar os ouvidos para o que muitas pessoas dizem, ou seja, que há certas contradições dentro de  instituições evangélicas, resultando em pessoas feridas e sem cuidado. É visto que nesse contexto de convivência não há nada de diferente ao que as Escrituras nos mostram, um exemplo está na 1ª carta de Paulo à igreja de Coríntios "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer." - 1Co 1:10

Então vai a pergunta de muitos ... Por que a igreja é contraditória? Creio que é importante meditar sobre este tema com mais freqüência, porque a cada dia que passa esta mesma igreja esta sendo alvo dos mais diversos ataques de quase todos os setores da sociedade.
É interessante analisar, ainda que brevemente, algumas causas que levam a pensar que a igreja é "contraditória". Quatro coisas que não se pode esquecer:

1. Não pode-se esquecer de que mesmo salvos pela graça de Deus, ainda estamos sujeitos ao pecado.
Se o crente não vigiar a velha natureza pode voltar, e voltar com força tal que se age com impulsos carnais. "Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam." - Gl.5.17. Quando isto acontece, não somente pecamos contra Deus, mas cometemos ações que serão alvos de olhares reprovadores. “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” - Rm 6.12-14.

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?”- Rm 6.1-2.

É necessário zelar para que o princípio do pecado não mais nos domine. "Devemos vigiar para andarmos sempre à vista diretiva do Espírito Santo. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito" - Gl 5:25

2. Não podemos nos esquecer que nós somos um corpo diversificado.
Ainda que a unidade esteja fundamentada em Cristo nós temos uma grande diversidade de dons e talentos na igreja. Muitas vezes não sabemos trabalhar esta questão com sabedoria e infelizmente há líderes que cooperam em seu auxílio em ensinar e admoestar. “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” - 1Co 12.12-13.
Há situações onde uns querem impor um pensamento, uma ideia sem levar em consideração o todo da igreja. A solução é respeito pelo outro e seus pensamentos. “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” - Fp 2.3-4.

3. Não podemos nos esquecer que dentro da igreja há pessoas que não são salvas.
Pessoas que parecem que são crentes porque praticam certas atividades tais como cantar no coral, participar de alguns departamentos, dar o dizimo, etc. Todavia, não experimentaram a graça salvadora ainda.“Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro” - Mt 13.30.
É importante incentivar sempre para que a entrega da vida seja a Cristo e não a uma instituição chamada igreja. A igreja é o meio pelo qual a pessoa cresce e desenvolve a vida cristã, mas ela não salva a ninguém. “Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas” - Fp 3.18-19.
Há uma grande diferença entre igreja (instituição) e Igreja (Noiva de Cristo).

4. Não podemos nos esquecer de que existe o problema da liderança que não está em sintonia com o rebanho.
Infelizmente há líderes que não entendem que o papel a eles confiado foi de apascentar o rebanho e não de dominar sobre ele ou simplesmente se comportar como um líder laissez faire (palavra francesa: deixar fazer). “Rogo, pois, … pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” - 1Pe 5.1-3.
Os que exercem a liderança na igreja devem ser humildes com atitudes semelhantes àquelas encontradas nas páginas das Escrituras Sagradas e modelar a liderança no exemplo do Servo Sofredor: Jesus Cristo. “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” - Jo 13.15.

Portanto, todo aquele que é convertido em Cristo Jesus é responsável pela imagem da igreja e, principalmente, deve se preocupar com os fracos na fé, refletir mais sobre a compaixão para com o próximo e entender, ou buscar conhecer, o seu chamado no Corpo de Cristo para que o todo seja aperfeiçoado. É importante ter em mente que o exemplo a ser seguido é, e sempre será, o de Jesus Cristo que pagou o alto preço da morte (e venceu a morte!), para que pudéssemos ter vida em abundância.

Soli Deo gloria!