Uma tendência que observamos nos
relatórios e giros missionários é a ênfase aos pontos negativos de determina
área ou país que o missionário está atuando. Não raras vezes, vemos nas
igrejas, redes sociais e blogs, fotos de crianças negras passando fome, casebres
lotados de gente, pessoas doentes, cidades destruídas, calamidades naturais,
etc. É como se a miséria validasse o trabalho missionário, nos transmitindo uma
visão pessimista do mundo, e os missionários têm a solução para todos os
problemas. Porém, algo está errado nessa tendência!
Eu gosto de ter uma visão positiva – a do
copo meio cheio e não vazio – buscando sempre animar, e não colocando culpa e
medo. O meu positivismo (não teológico!), não tem a ver com acreditar que o
homem é bom em si mesmo (somos todos pecadores), mas, sim, no Deus imutável e
poderoso. Quando prego sobre missões, não enfatizo a pobreza na África,
tampouco o terrorismo do Islã, muito menos o narcotráfico latino-americano ou
ainda a vida primitiva dos índios Papua. Então qual deveria ser a nossa ênfase?
Que mensagem deve ser transmitida?
Eu corro junto com Patrick Johnstone, um
missiólogo e pesquisador britânico, ao dizer que Deus esta fazendo a sua obra
no mundo e Ele nos convida a participar dela. Há muito que regozijar-se. Tantos
avivamentos e milagres de Deus ocorrendo nesse exato momento! Por que não
falarmos dos mais de 15 mil missionários sul-coreanos no mundo? Por que não
anunciarmos o avivamento chinês com crescimento acima de 7.400% (de 1 milhão
para 75 milhões) evangélicos em apenas 50 anos? Porque não afirmamos que os
maiores plantadores de igrejas na Europa são nigerianos? Ou ainda a
perseverança e crescimento dos cristãos iranianos (em 1979 havia
aproximadamente 500 cristãos, já em 2008 foi registrado mais de 1 milhão de
servos de Cristo)?
Parece-me que a estratégia para levantar
novos missionários é baseada na culpa – “estão morrendo sem Jesus porque você
não prega” – ou no medo – “se você não pregar, Deus vai te cobrar essas vidas”.
Algumas vozes podem me contrapor, dizendo: “mas se nós enfatizarmos somente as
coisas boas, as pessoas não vão querer ser missionárias, porque pensarão que
Deus não precisa delas”. Exatamente! Deus não precisa de nós e nunca precisará.
Nós é que necessitamos dele. Se realmente acreditamos na “Missio Dei” e que
Deus é o dono da História e da Igreja, devemos confiar que, ao enfatizar a obra
que é dele, e não a nossa, o Senhor irá tocar nos corações que estão desejosos
a participar da obra que Deus já esta fazendo nas nações, e não aqueles que
querem ser o protagonista da missão.
Por isso, fiquei muito feliz ao ver no ano
passado no 7° CBM (Congresso Brasileiro de Missões) o lançamento do DVD
“Envolva-se”, coordenado pela missionária Mila, com apoio da AMTB e Martureo.
Nesse material desenvolvido pela “Create International” (Austrália) fica clara
a obra que Deus está fazendo em todas as etnias. É esta visão positiva que
estamos precisando no Brasil. Olhar para as nações com uma visão de amor e de
cooperadores, e não de pena e solucionadores dos problemas. Os europeus e
americanos não são maiores que os latinos, e nós não somos melhores que os
africanos. Somos um corpo, e cada um tem sua parte e contribuição dentro dele.
Paulo já dizia isso:
“… de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento. O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho. Pois nós somos cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus”. (1 Coríntios 3.7-9).
• Autor do texto: Felipe Fulanetto, de Campinas (SP) - mestrando em
Missiologia no CEM e especializando em Etnomusicologia pela “Summer Institute
Linguistic” (SIL). Foi missionário no Peru e Paraguai e hoje é pastor pela
Igreja do Nazareno, coordenador de pesquisas missionárias institucional da
AMTB, pertence à equipe do projeto Vocacionados (vocacionados.org.br) e da
organização do Congresso VOCARE.